sábado, 17 de abril de 2010

Atalhos

PAbLO KAsCHNer

Atalho é uma palavra que sugere algo físico, uma trilha no meio do mato, um buraco no meio do muro, mas que também pode ser bastante metafórica. Possuem esses dois vieses os atalhos aos quais me refiro: os do teclado do computador.

Eles estão lá, ao alcance das nossas mãos. Quer coisa mais palpável? São ferramentas acionadas por meio da junção de duas ou mais teclas. Se apertadas simultaneamente, shazam!! O milagre acontece!

A vida bem que podia ser que nem os atalhos do computador. Já pensou? As coisas seriam tão mais fáceis se tivéssemos a possibilidade de, simplesmente pressionando teclas, apagar coisas da memória... Traição? Delete. Amor impossível? Delete. Dívidas? Melhor deletar até da lixeira. Tem certeza que deseja excluir o arquivo “Ex_que_te_sacaneou.fim”? Sim. Muito. E olha que Delete nem é atalho. Mas que fique claro que tamanho não é documento, pois não está no gibi os estragos que esta mísera teclinha é capaz de fazer, se mal utilizada, com os seus documentos. No bom sentido, é claro.




Vamos, pois, aos atalhos em si. Cansou-se de desempenhar uma função e quer mudar de tarefa num piscar de olhos? Alt Tab. Precisa urgentemente de se justificar,pelo motivo que for? Control J neles. Dizem que só Jesus salva, mas isso é uma meia verdade: Control B está aí e não me deixa mentir. É ele o verdadeiro grande salvador. Das idéias medíocres e sobretudo das idéias geniais que nunca sairão do papel ou da tela de um computador. Isso sem falar nos famigerados Control C e Control V, quase sempre utilizados de forma conjunta, um kit-plágio quase que institucionalizado. Quer chutar o balde? Tem horas em que não há nada mais metafísico que esticar os dedos e mandar um Control Alt Del, que bem poderia se chamar Control F. Não lembra mais qual atalho faz o quê? É só pedir ajuda: F1.

Mas o atalho mais metafórico e pragmático – não por acaso, o de que mais gosto, talvez porque o que mais utilizo – é o tal do Control Z. Se você não conhece, não sabe o que está perdendo. Justamente, com ele, não se tem nada a perder. Ele é o responsável pelas suas irresponsabilidades; equivale, em linguagem técnica, ao Undo, Desfazer. Possibilita a maravilhosa e irreal idéia de voltar atrás em algo que, por causa dos outros ou por “mea culpa”, deu errado. Foi mal na prova? Control Z. Brigou com a pessoa amada? Control Z. Refazer escolhas, alterar detalhes, corrigir bobagens são idéias bastante atraentes a nós, mortais. Mas infelizmente (ou felizmente) não nos compete. Nada me tira a idéia de que Deus é um imenso “maestro-CPU” que orquestra os atalhos de cada um de nós. Com a diferença de que nunca dá pau, embora muitas vezes nós duvidemos disso e insistamos em ignorar que Ele, sim, tem todos os controls das situações.

Sinceramente, não acredito em máquinas dominando seres humanos. Se a referência em questão é a de que a humanidade inteira poderia ser dizimada com o simples apertar de um botão, aí sim a coisa muda de figura, mas no fundo, no fundo, essa é uma análise um tanto rasa, posto que o homem seria dizimado por ele mesmo. Não é a metralhadora que mata, mas sim o dedo que puxa o gatilho. Não parece haver dúvidas de que não são as balas as perdidas; e sim, as pessoas. Mas não criemos pânico se nos acharmos perdidos! Não há nada que um belo Control L não resolva.

Um comentário:

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